Segredos Modernos


Aí você se pega discutindo a reportagem do telejornal com você mesmo, sentado, sem postura, no sofá da sala.
E faz as contas, percebe que todo dia, conversa virtualmente com metade do mundo; 
pessoalmente, com menos de cinco pessoas.
Abre a geladeira e vê vários potinhos com pequenas porções de comida.
E também repara que fala sozinho quando toma banho.
Seca sozinho uma garrafa de vinho de quinta categoria em plena terça-feira, ouvindo música de primeira.
Se deita e abraça os seis travesseiros.
Antes de dormir, se pega acarinhando os próprios cabelos e pensa que não tem notícias das pessoas com quem você mais riu junto.
E também percebe como é difícil não pensar em quem já te fez chorar tanto.
De madrugada, vai à cozinha beber água, mas não acende nenhuma luz, pois sabe exatamente onde está cada coisa: ninguém além de você mexe nelas.
Pela manhã recebe as correspondências, sem perspectiva alguma; há muito só chegam contas a pagar.
Na rua, olha as vitrines e repara na cafonice das pessoas, chega a debochar e novamente lá está você discutindo consigo mesmo a coragem que certas pessoas têm de se vestirem assim ou assado.
E quantas vezes você já mandou sua mente parar de te acusar daquilo que poderia ser, mas não foi _e nem vai mais.
Todo dia, disfarça para os patrões, e pra atendente da padaria também.
Passa mais horas no trabalho que em casa, mas quem se importa, se há apenas paredes e coisas à sua espera?

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