Os Sons das Chaves


Toda chave tem seu próprio som. Eu sei porque ao longo da vida conheci vários sons de chaves: os da casa onde morei, do carro do papai, dos lugares onde trabalhei, enfim. Todas tinham seu som exclusivo.

Hoje carrego comigo dois molhos diferentes. Procurando por eles na bolsa, me guio pelo seu som e por ele eu sei se estou pegando as chaves certas ou não. 

Que grande bobagem é ficar pensando em sons de chaves, mas é um tema que me fez pensar nos nossos próprios sons. 

Acredito que produzimos sons enquanto vivemos, a todo tempo. Em meio a tantos, um é exclusivamente para nós. É aquele som que chega familiar aos nossos ouvidos, que nos aperta a pressa de chegar logo, que oferece aconchego, abrigo, lugar de descanso e renovo. Ah, quando esse som acontece, pode saber, encontramos o nosso lugar! 

Às vezes a gente força a chave errada. Ela entorta. Empena. Às vezes a coitada até se quebra, fica inutilizada. Mas a chave certa flui, sem traumas. Tranca-nos para o medo e abre-nos para a segurança de um lugar tranquilo, de amor, melodioso, sereno. Um lugar onde a gente pode ser a gente mesmo. É o lar da gente, no coração de quem a gente ama e também ama a gente. 

E embora as chaves tenham a função de prender, a chave do nosso lar nos liberta, trancando nossa solidão e escancarando a nossa felicidade porque onde reside nosso coração, ficamos por puro querer, cadeados e segredos são desnecessários.

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